Haikai (Haïku ou Haicai) é um forma poética de origem japonesa, surgida por volta do século XVI, que valoriza a concisão. O haikai é a arte de dizer o máximo com o mínimo.
Cada haikai capta um momento de experiência, um instante em que o simples subitamente revela a sua natureza interior e nos faz olhar de novo o observado, a natureza humana, a vida.
O grande mestre haikaista foi Matsuô Bashô (1644-1694), que se dedicou a fazer do haikai uma prática espiritual, unindo a poesia com os princípios zen-budistas.
O haicai desembarcou no Brasil em 1919 com o poeta Afrânio Peixoto , e de lá para cá viveu momentos diversos: ganhou rima, perdeu rima, ganhou título, perdeu título, movimentou polêmicas acerca de sua forma e dividiu correntes. A primeira mulher a publicar haicais no Brasil foi a Paranaense Helena Kolody, em 1941. Uma das correntes defende o tradicional haicai Japão japonês. Seguida inicialmente por imigrantes japoneses, como Teruko Oda, define haikai como um poema de três versos, escrito em linguagem simples, sem rima, com dezessete sílabas poéticas (sendo cinco no primeiro verso, sete no segundo e cinco no terceiro), e com uma referência à natureza expressa por uma palavra (o chamado kigô), que deve representar também a estação do ano. Alguns nomes que vêm se destacando nessa corrente: Edson K. Iura, Francisco Handa, Douglas Eden Brotto, Francisco Pichorim, Paulo Franchetti, Luis Antônio Pimentel, Antônio Seixas, Osman José de Oliveira Matos, Jorge Fonseca Ramos, Wandi Doratiotto e outros. A primeira incursão do haikai no Brasil, entretanto, foi através de Guilherme de Almeida, para quem o haikai deve ter estrutura metro métrica rígida, rima e título. Em um esquema proposto por Almeida, a 5ª sílaba do 1º verso rima com a 5ª sílaba do 3º verso, e o 2º verso possui rima interna (2ª com 7ª sílaba). A terceira corrente incorpora o haicai à tradição brasileira, não valorizando tanto a métrica nem o kigô. São poetas como Paulo Leminski, Helena Kolody, Millôr Fernandes e Alice Ruiz, que além de questionar a forma do haikai, ampliam suas possibilidades temáticas. Chega-se a ter, hoje, haicais com temática erótica, como os de Olga Savary.
Exemplos:
- o saldo da noite
- ramalhete de tulipas
- vazias de chope
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- Roberto Menezes
- dia de finados
- sobre a lápide esquecida
- só as nuvens choram
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- saudando a manhã
- cunhantã colhe no campo
- a flor da suinã
- menino, solte o balão
- Iansã leva tua esperança
- pra Xangô São João
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- Rogério Lima
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- Noite chuvosa
- Vai e vem das folhas
- Dança do vento
- Desfolhado
- O abacateiro chora
- Gotas de orvalho
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- César Silveira
- fim de tarde
- depois do trovão
- o silêncio é maior
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- Alice Ruiz
- velho tanque
- uma rã salta
- barulho d'água
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- Bashô
- luz do sol
- que a folha traga e traduz
- em verde novo
- céu azul
- que vem até onde os pés
- tocam a terra
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- (Luz do Sol)
- no despenhadeiro
- a sombra da pedra
- cai primeiro
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- Carlos Seabra
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- noite adentro
- o chute na porta
- o grito de assalto
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- Carlos José
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- bela tarde
- ela indo
- e eu com saudade
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- Carlos José
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- folha quando cai
- a vida ainda aproveita
- morre em piruetas
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- Osman Matos
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